ARTIGO: A inovação social na construção da sociedade que queremos no município de Maricá

A emergência sanitária da Covid-19 e a crise climática levaram a humanidade a encontrar novos caminhos para a construção de seu futuro. Até aqui tem prevalecido os mecanismos inerentes do modelo econômico do capitalismo e, dentro de sua lógica, das inovações tecnológicas em todas as suas extensões e impactos, sejas aquelas meramente incrementais até outras mais radicais ou como se define, disruptivas. (DOWBOR, 2017) (ZAOUAL, 2006)

Em geral, atribui-se a estes avanços ao próprio capitalismo e sua dinâmica. Entretanto, há de se registrar a importância do estado em seu papel de construção de bem-estar social, seja pelo desenvolvimento em infraestruturas de mobilidade e saneamento básico das cidades, passando pelo desenvolvimento das vacinas, e chegando até ao desenvolvimento de inovações espaciais, todos estes com vários desdobramentos tanto tecnológicos e inovadores quanto sociais.

Entretanto, há pensamento econômico predominante da eficácia dos empreendimentos privados em relação aos empreendimentos públicos, onde se procura reduzir sobremaneira o papel do estado na definição de ações e de empreendimentos de criação de valor e de renda.

Por fim, há ainda o valor dado às novas tecnologias da informação e da comunicação sem se atentar para em qual direção os empreendimentos baseados nestas tecnologias carregam o valor criado. Em tempos de globalização, falta criticidade sobre a neutralidade tecnológica: o empreendimento local pode estar transferindo valor para outro lugar do globo, sendo assim, criando valor alhures.

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Há, também, a perspectiva de que com a globalização, as soluções passam a ser globais. Neste aspecto fazem crer que os desafios das localidades são construídos “lá fora” e cabe o debate local, mas que se deve esperar por uma solução vinda e transposta de outrem.

Dois pontos se destacam na dimensão do contraponto: a necessidade de uma localização dos desafios, com o resgate dos protagonismos das cidades na busca por soluções e desafios próprios, ou seja, da reconstrução do valor do território como valor econômico e social; e da reconstrução de uma nova articulação entre as pessoas neste território em novas formas de articulação social na perspectiva de uma nova forma de se reconhecer o valor criado localmente. (DU TERTRE; VUIDEL; PINET, 2019) (MANZINI, 2017)

Maricá, ao longo dos últimos anos, tem desenvolvido estes dois eixos de ação. Por um lado, a cidade desenvolveu-se no eixo econômico, pela via da criação de uma moeda social, a Mumbuca. A moeda social Mumbuca se contrapõe aos modelos de cidade inteligente baseados em tecnologia. Diferente dos investimentos baseados em tecnologia em uma cidade, a moeda social Mumbuca criou uma identidade, pois a cidade passou a ser reconhecida também pela sua moeda; e, acima de tudo, criou um território específico, já que a moeda só pode ser utilizada no município.

Além disso, os vários serviços oferecidos em cima desta moeda, como a renda básica cidadania, garantem que o valor distribuído na cidade permaneça na cidade. Assim, distribui-se renda localmente, se desenvolve negócios e se criam empregos dentro da lógica econômica desenhada pela moeda social.

A moeda social Mumbuca e seus programas acabam por prover a cidade uma identidade perdida, como tantas outras cidades, pela globalização. A moeda trouxe localidade e, ao mesmo tempo, identidade, o que possibilita trazer a discussão de território e de valorização de arranjos sociais locais que valorizem os novos valores criados ou até mesmo resgatados.

Mas a criação de uma identidade de território requer também a necessidade de um novo arranjo social que permita se apropriar deste território na criação e de distribuição de valor.

Nesse sentido, as incubadoras de inovação social criam as condições que auxiliam no fomento e criação de uma nova dinâmica social de criação de valor.

O Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação de Maricá (ICTIM) criou quatro Incubadoras de Inovação Social, três delas verticalizadas e uma horizontalizada. Diferentemente das Incubadoras tradicionais, aquelas que procuram criar novas empresas de base tecnológica, as Incubadoras do ICTIM visam a melhoria dos negócios locais, em rede de empresas e articuladas no território. Nessa lógica, procura-se desenvolver a colaboração entre empresas e a criação de produtos e serviços conectados com os valores do território.

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As Incubadoras verticalizadas atendem a um segmento específico. São as Incubadoras de Inovação Social em Cultura; de Robótica e Sustentabilidade; e Mumbuca Futuro. A Incubadora de Inovação Social em Tecnologias tem a função de alavancar empreendimentos em rede e territorializados.

Assim, as incubadoras de inovação social procuram incubar não uma empresa, mas uma sociedade futura capaz de gerar riqueza localmente a partir de desafios locais estabelecidos em colaboração. Portanto, uma inovação social que resgata o papel da cidade inteligente para articulação social, um novo relato e narrativa e não apenas baseada na admiração tecnológica, da unicidade técnica. (MILTON SANTOS, 2022)

Assim, tendo como base o processo de inovação social no eixo de transformação, além da inovação tecnológica como suporte ao processo de mudança social, o ICTIM, em conjunto com os entes da Prefeitura Municipal de Maricá, vão criando condições para a criação um futuro novo local, cooperativo e socialmente justo.

Carlos Senna
Assessor especial da Presidência da Finep e ex-presidente do ICTIM

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