Câmara de Duque de Caxias pode abrir CPI para investigar irregularidades em hospitais e postos de saúde

 

Vereadores de Duque de Caxias Hospital Moacyr do Carmo Jornal Capital Carlos FelintoDiante de uma série de denúncias apresentadas pela população de Duque de Caxias sobre a precariedade e o descaso no atendimento das unidades municipais de saúde, uma comissão formada por onze vereadores decidiu fazer uma visita surpresa, na noite de ontem (26), para constatar as condições dos serviços prestados no Hospital Municipal Moacyr do Carmo, que é o maior centro de referência médica na cidade, porém, alvo das principais queixas. Ao chegarem ao local, os vereadores constataram a gravidade do problema, como a falta de médicos e medicamentos. Revoltados com o abandono, pacientes que se encontravam à espera de atendimento disseram que estavam ali desde a manhã.

O paciente Carlos Celso dos Santos, de 69 anos, que é portador de diabete, explicou que tinha feito um exame para verificar a taxa de glicose por volta das 10h e até aquele horário não tinha recebido o resultado. Os próprios funcionários, que não quiseram se identificar, informaram que não há sequer analgésicos no ambulatório e responsabilizaram a falta de profissionais por conta do atraso dos salários. Apenas 30% do efetivo estavam presentes. Alvo também de denúncias, o laboratório Acilab, contratado pela prefeitura para prestação do serviço em todas as unidades públicas de saúde do município, é criticado pela demora no fornecimento dos resultados dos exames. Há casos que só são enviados  depois de um mês. Já nas situações emergenciais, com sorte, chegam após 24 horas. Uma profissional, que não quis se identificar com medo de sofrer retaliações, explicou que essa deficiência prejudica principalmente aqueles que se encontram em situações graves, podendo levá-los a óbito, no caso, por exemplo, de um infarto, quando a vítima perderá a chance de ser tratada a tempo, além dos resultados que decidem  uma internação ou não.

     - Estamos perplexos ao constatar toda essa precariedade. Isso é inadmissível. Estamos falando de vidas que não podem ser banalizadas ou perdidas pela ineficiência de um trabalho. Tanto pacientes quanto os profissionais ficam a mercê deste descaso. É preciso dar um basta nisso - desabafou a vereadora Fátima Pereira, a Fatinha. Nesta quarta-feira (27), a comissão vistoriou o Hospital Municipal  Infantil Ismélia da Silveira e encontrou também uma série de precariedades: equipamentos sucateados, centro cirúrgico desativado por conta de infiltrações e aparelhos quebrados, extintores vazios e vencidos desde 2009, aparelhos de autoclave (utilizados para esterelizar materiais) quebrados, seringas descartáveis, da marca fharmatex, de baixa qualidade, pois quebram com facilidade,  cateter (tubo inserido em vaso sanguinio para receber medicamento), sem abertura suficiente devido erro de fabricação, entre outros problemas.

      De acordo com o chefe da divisão de enfermagem, André Luiz Oliveira, a Lei Federal 8.666, que trata das normas de licitação, destaca que todos os materiais a serem adquiridos devem passar por uma vistoria técnica para constatar a sua qualidade de uso, mas isso nunca foi feito. "De cada cinco seringas, por exemplo, apenas uma serve para ser utilizada", contou o profissional. Indignado com o abandono que se encontra o Hospital Ismélia da Silveira, onde costuma atender cerca de 800 crianças por dia, o vice-diretor da unidade, Paulo Santoro contou que precisam buscar alternativas para salvar a vida de pacientes.

      - Nosso centro cirúrgico, que fazia operações de baixa complexidade, está fechado há três anos e até agora nada foi feito. Hoje, ele se transformou em um depósito de medicamentos contra a dengue. Para serem operados, os  pacientes são encaminhados ao Moacyr do Carmo, onde há precariedade de vagas. Nos finais de semana, o problema se agrava, pois não há cirurgião- pediatra de plantão no hospital, e temos que contar com a boa vontade de colegas de outras unidades para realizar as cirurgias de emergência. Acredito que essa visita da comissão serve de alerta, pois vivemos de esperança e não temos a quem recorrer - disse Santoro.

       Decidida a exigir a imediata regularização no atendimento prestado pela rede municipal de saúde, a Comissão de Vereadores vai percorrer as 40 unidades da cidade. Na próxima terça-feira (dia 02/04),  eles irão se reunir com a direção do Hospital Moacyr do Carmo para cobrar as devidas explicações. Ao final de todo levantamento, a comissão fará um relatório e encaminhará ao prefeito Alexandre Cardoso e ao secretário de Saúde, Camilo Junqueira, para que dentro de um prazo a ser estipulado regularizarem a situação. Caso contrário, enviarão a denúncia ao Ministério Público e irão instaurar na Câmara uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito).

        A Comissão dos Vereadores é formada por Sérgio Alberto Corrêa da Rocha (Serginho Samuquinha),Celso Luis Pereira do Nascimento (Celso do Alba),Claudio de Oliveira Thomaz (Cláudio Thomaz), Marcelo Ferreira Ribeiro (Marcelo do Seu Dino),Marcos Fernandes de Araujo (Marquinho Oi), Marcos Paulo Barbosa Tavares (Marcos Tavares),Marcus Vinicius de Moraes Guimarães (Boquinha), Maria de Fátima Pereira de Oliveira ( Fatinha), Mauricio Guimaraes Nascimento (Dr. Maurício), Osvaldo Ferreira de Lima (Osvaldo Lima) e Moacir Anselmo dos Santos (Moa).