Consumo, liberdade e futuro

Cumprimos uma rígida rotina, submetemo-nos a horários e ao crivo do outro para no fim do mês poder pagar pelo teto onde vivemos, pelo que comemos, pela educação e para escolher, baseados em critérios e informações que nos chegam. Chegamos cansados do trabalho, e ligamos a TV para relaxar. Como não se comover com tantas promessas de felicidade? Mas o prazer prometido na telinha e reforçado pelos enormes outdoors, nos leva à negação de uma realidade cruel: nossas crianças estão cada vez mais gordas. 

Problemas que costumávamos encontrar apenas nos mais idosos, como diabetes e colesterol alto, estão se tornando rotina nas escolas. Quem trabalha e almoça fora todos os dias, não se dá conta, às vezes, de quanto pode transformar sua rotina e melhorar a qualidade de vida dos seus se gastar algumas horas por semana cozinhando. A riqueza escondida nos temperos, nos legumes e frutas é inimaginável. E a rotina do preparo tem um poder incrível de imprimir memórias afetivas nas crianças. 

A primeira vez que li sobre a restrição por lei da publicidade de produtos infantis na TV e no rádio, a proibição de personagens infantis na venda de alimentos e uso de brindes e brinquedos promocionais, achei radical. Não é. É muito comum o hábito de correr para o supermercado para comprar biscoito para os filhos quando o salário sai. É por isso que o tema merece atenção, reflexão e mobilização. E a lei pode, de fato, ser um instrumento para conscientizar pessoas.

O tema envolve um princípio muito sensível a todos, porém manipulável, que é o da liberdade. Consumir liberta.Como adulta, posso ter a ilusão de que escolho entre o bom e o ruim, mas e as crianças? Como desenvolver o discernimento delas? Como mostrar o caminho sem ser pelo exemplo? Como mudar hábitos que construímos ao longo da vida e que parecem tão naturais? Como modular a felicidade e a euforia e mostrar que elas estão em outros lugares que não num pacote de biscoitos?