Pacientes da Policlínica Piquet Carneiro contam com equipamentos de uso inédito na América Latina

Pesquisa pioneira da unidade de saúde da Uerj teve aporte financeiro da Faperj

Dois equipamentos instalados na Policlínica Piquet Carneiro, em Vila Isabel, Zona Norte da capital, vêm ajudando profissionais de saúde da unidade a cuidar de pacientes que ainda sofrem com a Covid-19 mesmo após semanas do fim da infecção.

Com utilização inédita na América Latina, máquinas de oscilometria de impulso e ultrassonografia pulmonar foram adquiridas por meio de verba destinada à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). A Piquet Carneiro é vinculada à Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

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Médico e professor do serviço de pneumologia da Uerj, Thiago Mafort explica que, desde agosto, cerca de 400 pacientes passaram pelo ambulatório. Em seis meses de acompanhamento, 80% deles já apresentam uma melhora dos sintomas.

- No ambulatório, temos duas avaliações pioneiras no Rio de Janeiro. Uma é da avaliação pulmonar pela oscilometria de impulso, aparelho que mede o funcionamento do sistema respiratório de uma maneira simples. Não requer esforço do paciente e consegue fornecer dados para a equipe médica muito precisos sobre o acometimento da função pulmonar. Este é um aparelho pioneiro, não somente no estado do Rio, como no Brasil e na América Latina – explicou o pneumologista, que completou:

- Além da oscilometria, fazemos a ultrassonografia do pulmão dos pacientes, que também é pioneira no estado. Tudo isso faz parte do processo de acompanhamento dos acometidos pelas sequelas da Covid-19.

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Entre junho e julho do ano passado, Assed Filho, de 60 anos, ficou 37 dias intubado num hospital do Rio. Foi um período de muitas dúvidas e apreensão para familiares e amigos. Após vencer a Covid-19, como gosta de afirmar, Assed precisou conviver com os efeitos da doença e, desde setembro, passou a frequentar o ambulatório da Piquet Carneiro.

- Hoje, já consegui retomar minhas caminhadas diárias, embora ainda sinta um pouco de cansaço. Assim que saí do hospital, não andava, ficava só na cama e até precisei usar cadeira de rodas. Agora, já lavo até o quintal – contou Assed, morador de Campo Grande, na Zona Oeste da cidade, que pretende voltar a jogar o tradicional futebol do fim de semana.

Márcia Corte da Silva teve Covid-19 em setembro. Dois meses depois, ela foi encaminhada para o ambulatório da Piquet Carneiro.

- Não cheguei a ficar internada, mas foi um período muito ruim com a Covid-19. Por ser diabética e hipertensa, tive complicações. Ainda sinto falta de ar, menos um pouco do que antes, mas ela ainda segue presente porque ainda apresento uma lesão no pulmão. Desde novembro, quando o tratamento começou aqui, venho evoluindo com melhoras gradativas – disse Márcia.

Modernidade a serviço do paciente

A oscilometria de impulso funciona de uma maneira bem simples: o paciente não precisa se esforçar, apenas respirar de maneira normal. O aparelho mede a resistência das vias aéreas por meio de ondas respiratórias, evitando uma expiração forçada, como é exigido na espirometria, também conhecida como teste de sopro. Com o aparelho, mais silencioso, o médico tem a dimensão mais exata do movimento respiratório dos bronquíolos.

- A vantagem de utilizar este aparelho em pacientes pós-Covid é que ele é muito sensível e consegue detectar alterações que outros aparelhos e testes não têm essa capacidade. Esse é o grande diferencial – disse o coordenador do serviço de pneumologia da Uerj e professor da Faculdade de Medicina, Agnaldo José Lopes.

Já com o uso do ultrassom no diagnóstico de sequelas da Covid-19, a equipe pode fazer comparativo clínico com tomografia computadorizada, exame indicado para detecção dos sintomas da doença.

- Cerca de 25% dos pacientes têm alterações da espirometria, metade tem alterações no ultrassom e quase 70% têm alterações na oscilometria de impulso. Esses resultados ajudam a guiar o tratamento de cada paciente com base nos principais sintomas, como cansaço, fadiga e tosse. São ministrados medicamentos específicos para cada um deles. Muitos pacientes também são encaminhados para fisioterapia respiratória para reabilitação – afirmou Agnaldo Lopes.

Aprendizagem na pandemia

Além de médicos tarimbados, a equipe multidisciplinar conta da Piquet Carneiro conta com fisioterapeutas e residentes de Medicina da Uerj. Estudante do sétimo período, Laura Monnerat é uma delas. A universitária faz parte do projeto de iniciação científica da universidade há quase um ano.

- Como estou desde o início no projeto, vi que ele superou todas as expectativas. No início, tivemos até uma certa dificuldade de captar pacientes, mas, em pouco tempo, a procura cresceu. É interessante identificar o padrão de como os pacientes chegam e o grau de sequela que apresentam. Todos nós aprendemos juntos. Inclusive, os próprios médicos estão aprendendo sobre essa doença, que é tão nova – descreveu Laura. 

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